“A inovação é um dos pilares do desenvolvimento socioeconômico”, afirma Rodrigo Mendes, Diretor de Relações Internacionais da Associação Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos Inovadores (Anprotec), entidade parceira do StartOut Brasil, em entrevista para o Blog StartOut.
O profissional explica que o tema do desenvolvimento socioeconômico na América Latina passa por uma construção de diversos fatores interligados, que demandam investimento: a educação, a cultura, a ciência e tecnologia e, por fim, a inovação.
“Essa é uma jornada que começa na educação, concebendo seres críticos e pensantes, passando pela cultura, que proporciona discernimento e avaliação crítica, a ciência gera conhecimento e o compartilha com a sociedade, a tecnologia é a sua aplicação prática para a solução de problemas reais, e a inovação é a transferência disso tudo ao mercado, que retorna ao Estado com arrecadação de impostos e renda.”
Resiliência e criatividade
Mendes destaca a resiliência e a criatividade do povo latino-americano, além da diversidade cultural como pontos fortes da região. Entretanto, aponta uma questão crítica para o desenvolvimento inovador: a falta de investimento contínuo e consistente no setor.
“Alguns países como o Brasil se destacam em uma região ainda com pouca intensidade tecnológica. Aqui, temos uma indústria competitiva de TI, automotiva, aeroespacial, além da agricultura e biotecnologia. Outros destaques são a Colômbia e o Chile, inclusive indicados nos índices globais de inovação”, diz o profissional, se referindo principalmente ao Global Innovation Index que, em 2021, apontou o Chile como o melhor país da América Latina no seu ranking internacional.
Rodrigo pondera que o Chile não está colocado muito à frente de outros países do continente como o Brasil, Colômbia e México, e que ele oferece basicamente as mesmas condições de infraestrutura de hardware. Contudo, ele identifica uma vantagem essencial que tem priorizado o país no quesito inovação: a abertura de seu ecossistema para startups estrangeiras.
“Acredito que o Chile tem se destacado pelo seu modelo de investimento e apoio ao ecossistema de startups. O programa Startup Chile atrai empreendimentos internacionais para fazer processo de aceleração e incubação, além de um arranjo de investimentos constantes na área da ciência e tecnologia. A construção de um ambiente de inovação diversificado é um diferencial enorme porque o país passa a se conectar com outras nações e desenvolve um hub global de empresas inovadoras”, explica o profissional.
Mendes esclarece que o Brasil já tem um mercado muito amplo e diversificado de potenciais consumidores e, consequentemente, nosso ecossistema é muito nacionalizado. Em contrapartida, o Chile, por ser um país pequeno, já demanda que suas startups sejam internacionais de início. “Da mesma forma que é imprescindível que as empresas chilenas nasçam pensando globalmente, o governo de lá investiu consistentemente na atração de empreendimentos estrangeiros para alavancar e diversificar seu ecossistema.”
“Combinando o incentivo ao empreendedorismo internacional a uma série de fatores relacionados a facilitar o ambiente de negócios e à redução de burocracia, o resultado é um ecossistema mais aberto e livre para o desenvolvimento de novos empreendimentos, relacionado a outros países. Por mais que aqui o número bruto de artigos científicos seja consideravelmente maior, a proporção de patentes e a transformação desse conhecimento em produtos para o mercado é maior no Chile. Esse é um investimento efetivo em tecnologia que provoca a transformação para o ambiente de negócios, gerando riqueza e redistribuição de renda”, finaliza o especialista.